Basílica Menor de Santo Antônio do Embaré

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Diocese de Santos

Artigos
O Restauro do Mural da Santa Cecília (1° parte)
ELEMENTOS ARTÍSTICOS 04-10-2016
Santa Cecília

Desde fevereiro de 2009 estão sendo realizados trabalhos de restauro do mural da Santa Cecília (virgem mártir do segundo século, padroeira dos músicos, e belamente retratada na parte superior do côro da Basílica, por Pedro Gentili). Essa intervenção visa corrigir danos causados por infiltrações advindas do sistema rufo-telhado da Basílica na junção torre-nave do edifício.


Vale ressaltar que aproximadamente há 1 ano e1/2 foram realizados trabalhos similares no mural do Rei David, no lado oposto do edifício, ocasionado pelas mesmas patologias atuais. Foi publicado um artigo na época sobre o assunto no nº desse mesmo periódico.


As infiltrações por si não são causadoras de danos, mas a água absorvida pela alvenaria acaba migrando lentamente por condução gravitacional para baixo, e percorre os poros (capilares) dos tijolos e argamassa, se depositando na superfície de acabamento (pintura). Nesse percurso ela arrasta consigo os sais que compõem a estrutura químico-fisica da parede, e que se encontravam estabilizados; esse tipo de processo de arraste leva muito tempo, por vezes anos, até chegar ao final e novamente a parede se estabilizar e secar. Uma vez na superfície da pintura, a água evapora e fica ficam restando somente os sais, que são extremamente agressivos para a pintura à têmpera (tinta com as quais foram pintados os murais da Basílica). Esses sais comprometem química e esteticamente a pintura, vez que produzem um efeito esbranquiçado sobre a obra de arte.


“Conforme a literatura (Lade, K.), o cimento comumente utilizado para construção naquele período era o cimento portland, muito parecido com o que temos hoje, ele foi cientificamente desenvolvido pelo químico britânico Joseph Aspdin, de Leeds, que o batizou com essa denominação, devido a semelhanças cromáticas e de outras características com a de um tipo de pedra encontrada na Ilha de Portland, na Inglaterra. A” receita original “era aproximadamente: 62% de cal (CaO), 21% de dióxido de silício (SiO2), 7% de oxido de aluminio (Al2O3), 3% de oxido de ferro (Fe2O3) e 5% de oxido de magnésio (MgO)”.


Em 1995-1996 houve uma intervenção nesta mesma obra, os sais se depositaram neste mesmo trecho da pintura artística (abaixo, à direita da obra) e acabaram por destruir na época parte dos apliques decorativos em gesso ao lado da pintura. Os critérios de restauração do período não foram capazes de solucionar o problema, mas sim “maquiar” uma solução, e com o decorrer dos últimos 14 anos os polímeros utilizados foram afetados pelo tempo e agentes externos, sofrendo escurecimento e embranquecimento aureolado (por não serem produtos próprios para restauro, com estabilidade, e sofreram efeito de hidroscopicidade) assim à época teve que ser repintada a parte baixa à esquerda do mural e trocado integralmente o gesso decorado. Mas, mesmo com tudo que havia sido feito, não se buscou uma solução alternativa caso viesse a ocorrer uma nova falha no sistema de captação de águas pluviais, e quando esse ocorreu acabou por destruir ainda mais a obra que se encontrava com um filme isolante, fazendo uma barreira física para saída de água, que se acumulou por um tempo mais longo no mural.


Hoje, essa intervenção propõe soluções técnicas completamente distintas das anteriores, mesmo a patologia sendo a mesma:


Remoção do verniz fosco comercial aplicado no restauro de 1995-96, por meios químicos, utilizando os géis solventes e os solventes líquidos;


Remoção integral de retoque e repintes do quadro, deixando amostra à pintura original, qualquer que seja seu estado;
Remoção do polímero de fixação e isolamento da pintura à razão de 5%-10% (essa é uma margem de segurança para pintura, esse residual do polímero impede que os solventes utilizados no restauro atinjam a superfície pictórica do mural). Essas remoções são executadas utilizando um binômio de tipos de solventes (em géis, de DMF, e “in natura”, de hidrocarbonetos alifáticos + aromáticos, com “swab”).


Para executar esse trabalho, a superfície foi dividida em setores de 16x16cm, compondo 168 setores, que são trabalhados a ½ peça por vez; enquanto o gel de DMF age em ¼ do setor, outro ¼ está sendo limpo com os solventes no “swab”.


Para a remoção dos sais foi utilizado um EDTA (ácido etileno diaminotetraacético sal dissódico P.A.,) que têm a função de quelante, uma vez aplicado sobre os sais, ele é capaz de “pegar” esses sais da superfície e removê-los sem causar grandes danos à obra. A solução de EDTA foi preparada no intervalo de concentração de 10-1 a 10-2 molar.


Para o final da obra estão previstas a aplicação, por aspersão, da camada de isolamento, que será executada com polímero acrílico à base de Copolímero de etilmetacrilato e metilacrilato,(resina acrílica acriloid B72, fabricada pela Rhom & Haas e distribuído pela casa do restaurado/ sp). Posteriormente, os retoques serão feitos com pigmentos puros da marca Sennelier, com reconhecimento da “ACMI” e ASTM, ambas certificadoras norte americana para materiais artísticos e materiais em geral, ainda não está decidido o nível de recomposição que se objetiva para essa obra, tendo em vista que parte do dano é acentuado, no setor onde os sais ficaram depositados, embora não comprometa a compreensão artística da obra. Normalmente se aplica um verniz final artístico fosco, com filtro UV, da marca Lefranc & Bourgois, e possivelmente este será o caminho.


Danilo Brás, artista plástico, conservador e restaurador, na Basílica, conclui que no próximo artigo completará com as soluções finais desse restauro e o trabalho adjacente que está sendo executado (o restauro do São Felix de Cantalice). Uma versão mais completa do assunto, poderá ser encontrada no próprio site de Danilo, www.embarecr.com , onde publica vários textos , inclusive o artigo publicado sobre o restauro do Rei David, além de muitos outros assuntos referentes à Basílica do Embaré .


de Danilo Bras

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